Negócios

Com 6 anos de idade já partia cascalho, para vender e ajudar a mãe, na pedreira fundada pelo pai, Domingos da Silva Teixeira (DST), que forneceu materiais para a construção do velhinho Estádio 1° de Maio, em Braga. E aos 10 descobriu a Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian, tomando o gosto compulsivo pela leitura como alimento para fugir à pobreza.

Daí defender a simbiose entre a economia e a cultura acreditando que esta constitui o fator de diferenciação para tornar o grupo que lidera - desde a morte do pai, em 2010 - mais competitivo. "A cultura é a salvação da economia", defendeu José Teixeira, ainda recentemente, em declarações ao Negócios.

Disponibilizando quase três milhões de euros anuais para o efeito, sendo promotor de dois prémios literários e outro de fotografia entre muitas outras iniciativas, o grupo DST é considerado um dos maiores mecenas da Cultura em Portugal, com um orçamento que rivaliza com o das maiores fundações nacionais.

Assim se vê a força da cultura económica da DST: na bracarense Rua de Pitancinhos o campus - sede do grupo é um autêntico museu a céu aberto: numa área superior a um milhão de metros quadrados, por entre imensas unidades fabris, encontram-se espalhadas mais de duas mil obras de arte, entre as quais os rostos dos pais de José Teixeira esculpidos por Vhils.

E imensas instalações artísticas, um avião suspenso por cabo de aço, "spots" que convidam à meditação, à contemplação e à leitura. Inspirado por escritores, poetas e filósofos, como Pascal, Nietzche ou Espinoza Teixeira mandou serigrafar caminhos, corredores e fachadas da DST com algumas icónicas máximas, como uma famosa de Samuel Beckett - "Não interessa. Tenta de novo. Falha de novo. Falha melhor", que está inscrita num mural do complexo empresarial.

Ou esta de Bernardo Soares, semi-heterónimo de Fernando Pessoa, que se pode ler num criativo contentor "Vivemos todos neste mundo a bordo de um navio, saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos. Devemos ter uns para com os outros uma amabilidade de viagem".

Trabalhadores com teatro, psicologia e antirrugas

Amabilidade vezes 70 é a métrica dos benefícios de quem aqui trabalha. Alguns exemplos: um centro de saúde com consultas gratuitas de medicina geral, dentária e psicologia, uma biblioteca com milhares de obras, um restaurante com refeições variadas diariamente, serviços de cabeleireiro, manicure e de pequena cirurgia plástica, incluindo tratamento de rugas e injeções de botox.

Mais um detalhe glamoroso: o balneário feminino de uma das empresas do grupo, a Bysteel, foi transformado à imagem de um vistoso camarim das estrelas de Hollywood. De resto, os trabalhadores da DST podem ainda desfrutar de campos de futebol, de ténis e de padel, um circuito de manutenção, diversos espaços de descanso e lazer, e até de um espaço de laboratório que foi convertido em discoteca.

Neste contexto, sem ponta de surpresa, o grupo bracarense foi este ano reconhecido como uma das melhores empresas para trabalhar pelo Top Employers Institute, a mais reconhecida empresa internacional de certificação das melhores práticas de recursos humanos de organizações de todo o mundo.

Resultado: na DST, que emprega atualmente 2.964 pessoas, a taxa de naturalidade é o dobro da média nacional, que não vai além dos 7,6 nascimentos por mil habitantes. E, no princípio deste ano, o salário mínimo no grupo aumentou para 800euros.

Em causa está um grupo onde, imagine-se, a avaliação de desempenho inclui idas ao teatro e visitas a exposições, havendo até pausas obrigatórias para leitura durante o horário de trabalho. E que já vai na segunda edição do curso de Filosofia, para mais de cinco centenas dos seus trabalhadores, a par de cursos especializados em Primeiros Socorros, em Saúde Mental e Neurociência.

Sem Efacec, mas com Agendas, TGV e comboios

"Éramos pedreiros artesanais e agora somos pedreiros digitais. Somos uma empresa muito inquieta, que só está bem onde não está, para usar uma expressão que nos influencia muito, que é do António Variações", afirmou José Teixeira ao Negócios, quando a DST ainda estava na corrida à compra da Efacec.

Mais tarde, quando confrontado com o tardar do "fumo branco" no processo de reprivatização da empresa, atirou: "Uso o poema 'Inquietação', de José Mário Branco, na parte em que diz: 'Agora que meti o barco ao mar, não vou ficar pelo caminho, [citação livre]' Nós vamos lutar muito para comprar a Efacec."

Uma luta inglória, tendo as negociações com o Governo acabado, sem sucesso, em outubro passado, com a companhia sediada em Matosinhos a ser entretanto vendida ao fundo alemão Mutares.

Após ter fechado 2022 com um volume de negócios de 477,2 milhões de euros, mais 66 milhões do que no ano anterior, com os mercados externos - França, Mónaco, Angola, Reino Unido e Países Baixos - a gerarem cerca de 20% do total, o grupo DST mantém o pé no acelerador. Com esta distinção: o desenvolvimento em contínuo de cerca de 90 projetos de inovação, nos quais participam cerca de 500 trabalhadores.

Desenvolvendo a sua atividade nas áreas de engenharia e construção, ambiente, energias renováveis, telecomunicações, imobiliário e "ventures", lidera duas das chamadas Agendas Mobilizadoras, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, num investimento agregado de 454 milhões de euros - um visa a construção de um "cluster" de habitação modelar, o outro tem como objetivo a criação de um ecossistema da indústria das baterias elétricas.

Entre outros projetos, o consórcio da DST com a francesa Alstom está bem posicionado para ganhar a corrida ao fornecimento de 117 comboios à CP, num concurso avaliado em 819 milhões de euros. E formou um consórcio com os braços portugueses da espanhola Sacyr e a ACA para concorrer à construção da linha de comboio lusa de alta velocidade, que está orçada em 11 mil milhões de euros.