Sapo

Sofia de Mello Breyner’s words are correct: “Culture is expensive, but the lack of it is much more expensive.” And can art be an asset in a business organisation? For Isabel Capeloa Gil and José Teixeira, it not only can, but it should. If a business vision does not integrate culture, it will not innovate - and that can be taught at any age, as we learnt in another Beyond Profit Talk, provided by the Fundação Santander Portugal.

Within a leading construction company, there is not just scaffolding and reinforced concrete, but there is also room to build better, more capable and autonomous individuals. In the same way, a university will not fulfil its mission if it limits its action to pouring out knowledge and measuring success by the ability to retain this within self-contained subjects. Opening up to the world is the answer to the need to bring humanism back to society, and literature, music, philosophy, theatre, artistic expression and other creative and cultural areas have immense power in this regard. A company that understands this will have a unique competitive advantage in the global market, as well as happier and more fulfilled employees. What is more, it will win the innovation race.

In an unlikely conversation moderated by the conductor Martim Sousa Tavares, these were some of the conclusions and experiences shared by the Reitor of the Portuguese Catholic University (UCP) and the president of the DST group. With the link between art and innovation at the centre of another of the Beyond Profit Talks by the Fundação Santander Portugal, Isabel Capeloa Gil and José Teixeira gave examples of the efforts they themselves have made, with surprising results.

E embora o final seja realmente feliz, a conexão nem sempre é natural. Por que, por exemplo, o CEO de uma grande construtora oferece sessões de poesia e filosofia a todos os seus trabalhadores? Para José Teixeira, a resposta é clara: "Há interesse económico na cultura". E para os menos informados, explicou a viagem: "Todos os dirigentes políticos, todos os professores e gestores devem ler o Padre António Vieira e aprender a importância da captura de pescadores pela causa do bem, do belo e da verdade. Se apoiar uma companhia de teatro em Braga ou uma orquestra de jovens refugiados afegãos, estarei a beneficiar intrinsecamente, ligado à bondade da ação, mas estarei também a contribuir para a cosmopolítica, para uma maior abertura à diversidade e à formação. A cultura é o caminho mais curto para se abrir ao mundo. E isso, assim como a justiça, a equidade e o bem - que também são deveres dos empreendedores - traz negócios e dinheiro.

É por isso que o empresário tem vindo a defender alterações à Lei do Mecenato que empurrariam os empresários para o papel de mecenas das artes, pois não só melhorariam as suas empresas e os seus colaboradores, como seriam um trampolim para a cultura, um ativo essencial para Portugal competir num mercado global. Realmente há muita economia nisso. "A ausência de pensamento é pior do que a miséria. E a leitura é a forma mais fácil de sair da miséria", acrescenta José Teixeira, explicando as sessões semanais de leitura e aulas de Filosofia oferecidas aos seus colaboradores.

Embora possa parecer que tudo já havia sido dito, a verdade é que essa conversa improvável estava apenas começando (e vale a pena assistir ao vídeo completo, compartilhado no topo desta página). Além disso, a experiência de Capeloa Gil ajudou a enriquecer esta noite, partindo da ideia de que a sua missão à frente da UCP era "quebrar silos de conhecimento". A resposta a esse desafio autoproposto assumiu muitas formas, mas um instrumento fundamental foi a tríplice titulação em Filosofia, Política e Economia, que ali se abriu, superando todas as resistências — incluindo o foco inabalável dos professores seniores em suas respectivas áreas de conhecimento e a criação de novos padrões de avaliação que permitiram levar em consideração o que não é concreto, mas que pode ter muito mais valor e servir futuro dos jovens muito melhor.

"Tornar os diplomados capazes de assumir uma abordagem ampla e integradora dos desafios que as sociedades enfrentam" foi a semente que gerou esta formação, que é regada pela forte convicção do Reitor de que "a universidade não deve ser um espaço confortável, onde apenas acrescentamos conhecimento nas áreas com as quais nos sentimos confortáveis, mas devemos ir além da terminologia específica de cada área". "As universidades não têm apenas o papel de formar profissionais qualificados. Eles têm um papel a desempenhar na criação de caráter, no pensamento por si mesmo, na transmissão de ferramentas para que cada indivíduo seja capaz de analisar informações complexas (que existem nas linguagens da literatura, das artes e da beleza). Se não o fizerem, estarão a falhar na sua tarefa de formar pessoas preparadas para enfrentar os desafios reais da sociedade — da pobreza à justiça. Cultivar a cultura significa treinar indivíduos melhores."

Consciente de que uma certa superficialidade rege o nosso desenvolvimento nos dias de hoje, Isabel Capeloa Gil indagou: "Como é que vamos refazer-nos enquanto sociedade, como é que vamos continuar a ser seres criativos, disruptivos, empáticos, sociais? Porque o isolamento diminui o ser humano — e a Inteligência Artificial (IA) pode piorar as coisas..." Ou melhorar as coisas. Depende do que fazemos com o tempo que ganhamos quando a IA nos permite deixar de estar imersos em tarefas rotineiras, liberando-nos para mais criatividade, aprendizado e cultura.

No entanto, precisamos saber como aproveitar ao máximo o tempo que vamos ganhar - e, ao fazê-lo, todos nós temos a ganhar, incluindo as organizações. "Nenhuma empresa vive só de tempo de formigas", lembrou-nos José Teixeira (e é impossível para quem o ouve não recordar o recente caso de Carlos Tavares à frente do PSA, que caiu em desgraça por não conseguir tirar os olhos do objetivo imediato). Ele continuou: "Há um tempo de necessidade e um tempo de liberdade, e este último não deve ser um tempo de preguiça, mas sim um tempo ligado ao conhecimento, à ajuda mútua, que se torna um tempo cívico".

O empresário enfatizou mais uma vez que esse investimento na abertura da cultura a todos não é "uma esmola", nem está fazendo isso para tentar agradar a ninguém. É para o bem comum, inclusive da própria empresa, que só pode ganhar com pessoas mais abertas ao mundo, mais capazes de pensar (até mesmo para contrariar ideias e hábitos que poderiam ser melhorados com uma nova visão) e inovar.

Ainda houve tempo para Martim Sousa Tavares lançar um último desafio: "Falamos de investimento na saúde, mas nas artes só falamos de apoio. Não estamos pensando no que a cultura produz?" "Ninguém quer que a cultura esteja num estado miserável, mas precisamos de mudar o paradigma e a grande reforma a fazer não está no Ministério da Cultura, mas no Ministério da Educação", defendeu José Teixeira. Para o CEO da DST, "a gestão carece de ficção". "A literatura tem o poder de ficcionalizar, a ficção científica tem ciência, mas a economia ainda é muito conservadora, muito focada em riscos e KPIs." Essa visão é compartilhada por Isabel Capeloa Gil: "Na Alemanha, a cultura dá mais dinheiro do que a indústria automobilística. É isso que devemos procurar. Não queremos artistas miseráveis, queremos que o dinheiro seja feito com a cultura." E o CEO terminou afirmando: "Precisamos de um relatório Draghi para a cultura".

Isabel e José já estão fazendo seus papéis, abrindo mentes jovens e maduras para o mundo, de modo a criar cidadãos autônomos, livres e curiosos, abertos a aprender sobre as diferenças e a riqueza das culturas, da arte e das muitas coisas que nos tornam diferentes, a fim de chegar à conclusão de que existe uma base de humanidade comum, mas uma miríade infinita de possibilidades que só a imaginação e o conhecimento podem desbloquear. E é assim que você chega à inovação, à criatividade aplicada a áreas menos óbvias. Como contratar poetas para pensar o futuro da construção, como fez José Teixeira.